Bíblia - Uma experiência de fé

Publicado por: Paróquia São Marcos

Nós hoje possuímos uma grande preciosidade que á Palavra de Deus escrita. Sua importância é fundamental, é fundante. Traz consigo a história de Deus que promove a salvação humana desde o princípio da criação, passando pelos profetas, os grandes personagens do Antigo Testamento, os testemunhos dos primeiros cristãos e os que doaram sua vida em função do Evangelho. Consideremos que para isso foi necessário que o Povo de Israel se abrisse para essa realidade da manifestação divina em seu meio. Esse povo eleito sente a necessidade de compreender-se através de sua história, e consequentemente de sua fé. Afinal, sua história é indicada pelos caminhos da fé; desde Abraão até a vinda de Cristo.

Notamos, então, que a presença de Deus na vida e história de um povo é mais que suficiente para mostrar seu envolvimento com sua criação de um modo mais íntimo. Deus presente e o sentir essa presença é que modifica toda a história de um povo. Quanto mais de uma pessoa. Quando se sente dentro de si mesmo a Palavra que indica onde se deve ir ou que fazer ao ler a Sagrada Escritura é fundamental para compreender a ação de Deus na vida de cada um. A Palavra de Deus escrita não é morta, sempre produz frutos, basta se abrir para esta dimensão. E aí se está fazendo a mesma experiência de encontro que Israel fez quando se compreendeu a partir de sua fé.

Como bem descreve Andrés Torres Queiruga, “a Revelação é então, para Israel, este conjunto de visão global do mundo e de experiência religiosa; ou melhor: essa visão do mundo totalmente modelada sobre sua experiência religiosa.”

É de uma experiência real com Deus que uma pessoa consegue se identificar como pessoa, é a partir de cima que se compreende quem é o homem; nunca é o homem pelo homem, mas Deus e o homem. Quem já experimentou essa inquietude que existe dentro do homem que clama por algo mais e se deixou envolver, sabe que não é suficiente falar de si, por si. E então a sua vida é totalmente direcionada pela verdade que pouco a pouco aparece e é evidenciada diante de si.

A história da presença divina em meio ao povo de Israel, a penetração cada vez mais profunda e intensa na existência de cada indivíduo e do povo é que é a história da revelação. Aprendemos, portanto, que não é possuir a Palavra de Deus em nossas casas, estantes e bibliotecas que nos fazem ser pessoas imbuídas do Espírito, renovadas através da adoção feita por Cristo através da sua Paixão. Mas, é a adesão a essa Palavra, o deixar-se penetrar pela revelação que promove o Reino de Deus acontecendo aqui na terra.

Já João Batista pregava a conversão pelo fato de que o Reino dos Céus estava próximo. Este Reino acontecendo é algo prático, do dia-a-dia, que Jesus vivia: o amor ao próximo, a caridade. Deixar-se tocar pelo Espírito de Deus é deixar-se comover pela Palavra escrita, Palavra que contêm a força da revelação do próprio Deus.

De onde parte tudo isso? Como iniciou esse dinamismo, essa visão da história impregnada pela fé de todo um povo? É a experiência de libertação do Egito, de uma situação de dependência e submissão. Esse é o movimento dinamizador: um Deus que liberta, que se mostra, que ama e quer ver a liberdade e felicidade de seu povo, o povo escolhido.

Quantas vezes Deus quis libertar a cada um de uma situação particular de submissão, de escravidão a que se estava preso. A verdade é que muitas vezes se ignora essa ação libertadora, se compreende errado, ou a reduz a um fato meramente casual. Essa é a diferença do povo de Israel: reconhecer a ação de Deus em sua vida, não ignorá-la ou diminuí-la. Deus quer continuar a libertar seu povo da escravidão, da dependência, de tantas amarras às quais parece inútil querer escapar. Deve-se deixar que o Senhor tome as rédeas de nossa vida para que se possa realizar plenamente o “ser humano”, filho de Deus, povo de Deus.

Por fim, a libertação do povo do Egito e as dificuldades que encontraram com os povos vizinhos fazendo lutas é que garantiu a Israel uma unidade política, desembocada na monarquia. Aqui, pela primeira vez se sentiram um povo unido e começaram a viver, como próprias e comum a todos, as tradições que tinham nascido em lugares e grupos distintos.

Da mesma forma, devemos interpretar que a nossa libertação e unidade se deve por uma escolha divina de sermos como seu Filho Jesus Cristo. A liberdade deve corresponder a essa escolha fazendo com que a adesão se dê pela mudança de vida, pela ação, uma resposta de fato. Não meramente juras ou discursos. A Palavra viva deve estar na nossa vida. E crer é mais que ter fé, é agir de acordo com essa crença. E cremos que Jesus é nosso Senhor e libertador, que promove o ser humano em todas as suas dimensões. Por isso, os Evangelhos mais que estudados ou lidos, devem ser vividos pela comunidade de fé. É essa a resposta que o povo de Israel deu quando sentiu dentro de si a ação de Deus. Essa é a resposta que devemos dar enquanto comunidade reunida, enquanto pessoas que querem crescer em graça e estatura diante de Deus, de Jesus.

A Bíblia é fonte onde se pode saciar a sede da impotência humana diante de si, do mundo, do próximo e de Deus. Tenhamos isso em mente: é necessário reconhecer essa verdade que está diante do homem em todos os seus dias: Deus existe, está presente na sua criação, procura dar-se a conhecer e oferece os meios necessários para que o homem possa reconhecê-lo.